“Quanto mais se doa, mais se tem”
Durante alguns anos atuei como repórter policial no Rio de Janeiro. Eventualmente, os diretores da emissora “quebravam” a rotina das notícias policiais, me enviavam às Casas Lotéricas da cidade. O objetivo era que eu ouvisse os planos dos apostadores, caso ganhassem o prêmio acumulado.
Dentre as respostas, como viagens exóticas, aquisição de fazendas navios e jatinhos particulares, a maior parte dos entrevistados dizia que, ganhando o prêmio, “iria ajudar as pessoas”. Talvez você já tenha dito a mesma coisa.
Avalie como esta resposta é reveladora: ignoramos que não precisamos de muito dinheiro para praticar a generosidade. Aliás, é possível ser generoso mesmo se fôssemos paupérrimos, sem gastar um centavo sequer. Por outra, tornar-se rico não é garantia de generosidade, há incontáveis pessoas que se tornaram ricas e que agora ocupam-se em gerar mais problemas para si mesmas e para os outros.
Mas afinal: por que tornar-se generoso só no futuro, e “se tivermos muito dinheiro”? A generosidade é um estado da mente e não do bolso!
A bondade é um tesouro, qualquer um pode cultivar;
A sabedoria é a maior das fortunas, qualquer um pode acumular...
Quem cultivar a generosidade, agindo com sabedoria “garante seu futuro” e faz um “verdadeiro seguro contra miséria” para as próximas existências.
Logicamente, doar comida, roupa e dinheiro são excelentes formas de prestar auxílio, mas não são as únicas. A verdadeira generosidade abrange doações materiais, mas jamais se resume a isso. É algo muito mais abrangente. A verdadeira generosidade é um estado da mente. Quando a mente alcançar este estágio, a pessoa sempre estará doando, mesmo que aparente nada ter para doar.
Como acumular fortunas? Doando-nos. A fortuna da mente sempre aumenta quando doamos. Quando a mente estiver em estado de real generosidade, tudo que fizermos será uma valiosa doação. Obter a fortuna da mente não depende de sorteio, mas de disposição para favorecer os seres. Podemos doá-la com os olhos, ouvidos, boca, mãos e pés.
Com nossos olhos: ninguém está impedido de doar um olhar gentil e encorajador. Olhar as pessoas com calma e consideração é igualmente uma doação generosa.
Com nossos ouvidos: escutar os aflitos, num simples desabafo pode reanimá-los. Quando as pessoas nos procuram, às vezes querem mera atenção e não sermões. Exercitar a escuta é uma raridade.
Com nossa boca: podemos encorajar, orientar e reanimar as pessoas com uma boa conversa. Dar vida e sentido ao que diz é preciosa doação aos ouvidos alheios.
Com nossas mãos: um abraço, ou aperto de mãos podem transmitir empatia e encorajamento. Com as mãos prestamos serviços variados e pequenas gentilezas.
Com nossos pés: andando podemos visitar pessoas doentes, acidentados, abandonados e etc. Andar na direção de quem precisa é,
“andar na direção certa”, doando nossa presença.
Quanto melhor utilizarmos olhos, ouvidos, boca, mãos e pernas, mais rica ficará a mente. Esta prática cria raízes para olhos, ouvidos, boca, mãos e pernas fortes e saudáveis em futuras existências, um corpo saudável e cheio de vida. Se utilizarmos mal nossos sentidos, além do risco da miséria, teremos riscos da cegueira, surdez, mudez e muitos outros males.
Ser a doação em pessoa, mesmo de mãos vazias, não há presente melhor para os seres sencientes!
Ao olhar para alguém e desejar “bom dia”, esteja engajado nesse voto, tente fazer o dia das pessoas ser, de fato, muito bom.
Doando o Darma
Para nós budistas, dentre todas as doações possíveis, doar bons ensinamentos é a melhor. A sabedoria é fonte de vida e fartura.
Doar o Darma, a Verdade, é ensinar às pessoas as causas de seus males. Existe maior generosidade que salvar os seres da ignorância e do sofrimento?
Doar a verdade é dar as chaves da prisão. Samsara é prisão. O que é Samsara?
É o estado de ignorância, confusão e aflições em que nos metemos, perambulamos neste estado de mente por vidas e mais vidas e ainda não desistimos dele. Ao compreender o Darma e doá-lo aos seres, de acordo com sua capacidade de entendimento, estaremos contribuindo para que os seres “desviem-se” de pensamentos e atos que os levarão, nos próximos renascimentos, aos orfanatos, asilos, hospitais e presídios. Estaremos nós mesmos nos desviando deste rumo, contribuindo ainda para erradicar a fome e a miséria no mundo, ensinando as pessoas sobre os males cármicos provenientes da ignorância.
Doar o Darma é desviar os seres da descida ao Inferno, plantando as sementes de um futuro melhor para nós todos e para todos os seres.
"Por Aristides dos Santos"